Clarion, em primeiro lugar, parabéns pela iniciativa. Achei muito legal essa idéia.
=)
Respondendo às questões...
Sim, a objetificação da mulher existe. Acho importante definir um pouco as coisas. Quando se fala em objetificação (ou objetização, como tu usaste, acredito que ambos estejam corretos) no sentido que geralmente é utilizado (pejorativamente) se resume a condição da pessoa a objeto.
Aqui entra a questão de ser biológico ou cultural. Biologicamente, homens e mulheres são vistos uns pelos outros como objeto sexual, de alguma forma, porque a sexualidade faz parte do ser humano. O problema, e aí é cultural, é quando limitamos a existência do outro à condição de objeto sexual. Nesse sentido, sim, é possível e desejável combater a objetificação feminina.
Acredito que o ponto central da questão seja a autonomia. O problema não é a mulher usar roupas curtas. O problema não é a mulher usar uma burca, que seja. O ponto é o quão autônoma é essa decisão. Claro, aí entramos num território bem complicado, pois a sociedade também pesa muito na hora de decidir algo. Mas enfim, isso daria muita discussão ainda, não é a minha pretensão desenvolver o tema aqui.
Um bom exemplo, na minha opinião, foi a Marcha das Vadias que aconteceu em várias cidades brasileiras. O objetivo da marcha é a luta contra a violência sexual e a objetificação feminina, sendo que algumas mulheres deixam os seios a mostra durante a Marcha para demonstrar que, mesmo estando parcialmente despida, homem (ou mulher?!) nenhum tem o direito de tomar posse do seu corpo sem consentimento. Pois bem... muitas críticas foram lançadas às meninas que tiraram a blusa na Marcha. Agora, desfilar sem roupa no Carnaval pode, porque aí é uma "manifestação cultural". Em outras palavras, não pode fazer uma manifestação PACÍFICA mostrando os seios em prol do fim da violência contra a mulher, mas pode mostrar os peitos na Sapucaí pra passar na TV. Não sou contra os desfiles de carnaval, cada um é dono do seu nariz. Mas convenhamos: tem algo errado nesse raciocínio, né?
Bem, acredito que o "puritanismo" também seja uma forma de objetificação, na medida em que a mulher "se tapa" em prol de exigências sociais, temendo receber um julgamento moral negativo caso se comporte de outra forma. Claro, aí também entra a questão da autonomia, não vejo problema nenhum na mulher que se sente mais confortável sendo mais discreta, como não vejo problema que outras se exibam mais.
Assim, não vejo nenhum problema na mulher (ou o homem, por que não?) que escolha explorar sua beleza ou sexualidade de alguma forma (profissionalmente ou de maneira informal, digamos). Perceba que aí se muda um pouco da condição de objeto, apesar de ainda assim haver consumo. Por exemplo, não sou contra pornografia ou prostituição, desde que não haja exploração, abuso, menores de idade ou incapazes envolvidos e que se garantam condições dignas de trabalho. Pra mim é uma profissão como as outras, e por isso também não julgo os "consumidores", desde que observadas as condições colocadas.
Por fim, a empresa... acho que vai muito da forma que a coisa é feita. Colocar a mulher como objeto, serviçal, prêmio, "pedaço de carne" para o homem, sim, acho que é ofensivo e reforça a objetificação já existente na nossa sociedade. Não que alguém vá se tornar mais "explorador" ao ver um comercial, mas naturaliza a ideia, faz parecer que é super normal colocar a mulher nessa posição (vide comercial da Axe "acumule mulheres", "celular de homem não tem agenda, tem cardápio"). Agora, dá perfeitamente pra se utilizar da beleza da mulher (e do homem!) num comercial/anúncio publicitário de forma sadia. Basta colocar a pessoa numa situação em que ela é sujeito de sua ação, e não colocar a beleza/sexualidade como se fosse o único atributo possível daquela pessoa (ou pior, daquele gênero).
Pessoalmente, uma coisa que me intriga muito é o fato de eu não lembrar ter visto até hoje um comercial com mulheres demonstrando que gostam de beber cerveja. Apesar de hoje em dia as mulheres beberem quase tanto quanto os homens, ainda somos retratadas como objetos sexuais nos comerciais. Pena.
Acho que era isso...
Desculpe pelo longo texto, espero ter contribuído.
=)